quinta-feira, 29 de maio de 2008

A Recepção Crítica de Manuel Mafra nas Exposições Internacionais

Fruteira de Manuel Mafra, Folha de Videira (c. 1860-1870, Museu de Cerâmica, Caldas da Rainha).
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Manuel Cipriano Gomes, dito «o Mafra», trabalhou inicialmente como operário servente na fábrica de Maria dos «Cacos», a qual tomou de trespasse em 1853, passando a empregar na marca da louça as iniciais com o seu nome. De acordo com Julieta Ferrão, a sua louça destinava-se à venda ambulante em feiras e mercados, locais onde adquiria «tudo o que era susceptível de ser reproduzido ou imitado na sua fábrica». Em 1867, participou pela primeira vez numa exposição Internacional, a de Paris, subordinada ao tema de «O Trabalho». O catálogo mencionava que ele expunha cem peças de faianças e referia que no seu estabelecimento trabalhavam dez operários. Observava-se que existiam «(…) nas Caldas, desde há muito tempo, muitas fábricas destas faianças».

Nas décadas de setenta e noventa desenvolveu-se um «pequeno surto industrial» de cerâmica nas Caldas». No ano de 1870 a situação de Manuel Cipriano Gomes começou a melhorar e passou a usar a coroa real na marca, depois do rei D. Fernando o ter designado fornecedor da Casa Real. Terá sido por influência de D. Fernando, Wenceslau Cifka e José Palha que teve acesso à cerâmica de Palissy e começou a inspirar-se nos seus modelos. Em 1873, Mafra voltou a apresentar louça das Caldas na Exposição Universal de Viena de Áustria e recebeu uma medalha de Mérito. Três anos depois, tornou a receber um prémio, desta feita na Exposição Universal de Filadélfia. O catálogo mencionava que a sua fábrica empregava 19 homens, 7 mulheres e 6 crianças. Em 1878, foi premiado na Exposição Internacional de Paris, com uma medalha de prata. Adrien Deboche, director de Belas-Artes em Limoges e membro do comité de admissão, dizia que «(…) aplaudimos os esforços de Viúva Lamego, de Mafra de Lizo [sic], de Oliveira e de Mataldo (…)». Em 1879, foi premiado, uma última vez, pela sua participação na Exposição Portuguesa do Rio de Janeiro. A Exposição de Cristais e Cerâmica mereceu a atenção de um artigo n’ O Occidente. Neste se mencionava que a «(…) Louça das Caldas destaca-se, como em todas as exposições antecedentes a que tem concorrido, pelo seu typo especial e cheio de originalidade, que lhe dá um lugar á parte na cerâmica moderna, e a faz apetecida de toda a gente dotada de bom gosto (…)».
Em 1884 iniciou a produção da fábrica de Rafael Bordalo Pinheiro e três anos depois Cipriano Gomes abandonou a direcção da fábrica, que passou a ser dirigida pelo seu filho, o que resultou num decréscimo produtivo. Havia quem dissesse que «Raphael Bordallo Pinheiro tinha por Manuel Mafra uma grande predilecção, devida principalmente ao reconhecimento dos serviços por este prestados á industria que, mais tarde, tão aperfeiçoada foi pelo grande artista». Em 1889 seria Bordalo o grande premiado, com a Legião de Honra, na Exposição de Paris.
Mafra ainda fundou uma nova fábrica, em 1897, mas sem sucesso, vindo a falecer em 1905 com 78 anos. Na imprensa local foi onde o seu desaparecimento mereceu maior saudade. O Círculo das Caldas descrevia-o como um «(…) um homem honradissimo e um trabalhador activo e muito intelligente, conseguindo elevar-se de modesto operario a um importante industrial». «Foi elle quem n’esta villa fundou a industria ceramica e que a tornou conhecida no paiz e em muitos mercados estrangeiros (…)».

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Texto de Margarida Elias.

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