quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Claustro da Badia de Florença


Pintura de João Gonçalves, Ciclo da Vida de São Bento (1436-1439, Claustro das Laranjeiras do Mosteiro de Badia, Florença. Fotografia de Margarida Elias).
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Numa época decisiva do primeiro Renascimento, no mosteiro da Badia, situado no coração de Florença e então dirigido pelo Abade D. Frei Gomes, natural de Lisboa, um artista português – Giovanni di Gonsalvo ou João Gonçalves – executa um conjunto de pinturas a fresco sobre a vida de S. Bento, considerado um dos momentos mais altos da pintura florentina daqueles anos (1436-1439).
O Abade Gome foi responsável por uma série de obras destinadas a aumentar o espaço destinado aos monges e aos seus hóspedes. Não podendo promover a expansão horizontal do mosteiro, viu-se obrigado a fazê-lo crescer em altura, o que exigiu a transformação de várias estruturas. O claustro superior deve ter sido construído no decorrer de 1435 e 1436. Na primavera deste último ano estava em condições de receber a decoração que o abade Gomes lhe destinara.
Durante muito tempo, interrogaram-se os estudiosos da História da Arte sobre a identidade e a preparação do autor das pinturas a fresco que enriquecem este claustro com a representação da vida de S. Bento. Giovanni Poggi deu-se conta de um numeroso conjunto de referências à presença e à actividade de um pintor português, chamado Giovanni di Gonsalvo, nas obras da Badia, entre 1435 e 1439. Confirmando a informação documental, Marco Chiarini defendeu convictamente a origem portuguesa do autor dos frescos, a partir da sua pormenorizada análise estilística. “Giovanni di Ghonsalvo dipintore”, ou, dito em português, João Gonçalves pintor, aparece na Badia em Maio de 1436, quando as obras de construção doclaustro se aproximavam do termo. Por uma referência de 6 de Julho, sabemos que estava alojado no próprio mosteiro.
O ciclo pictórico do claustro da Badia incluiu catorze cenas, correspondentes a outros tantos episódios da vida de S. Bento, conforme a narração de S. Gregório Magno. Os vários quadros sucedem-se por ordem, para quem, depois de entrar no claustro, segue pelo lado direito.
O conjunto das pinturas executadas por Giovanni di Gonsalvo no mosteiro dirigido por D. Frei Gomes constitui, no dizer de Carlo L. Ragghianti, um ciclo pictórico “que está entre os maiores da primeira metade de Quatrocentos em Florença”. Por volta de 1933, Ragghianti foi um dos primeiros a chamar a atenção para a importância deste ciclo e para a existência nele de aspectos que se afastavam daquilo que então se conhecia da pintura florentina daqueles anos. Os estudos efectuados por L. Berti e U. Baldini, em conjunto com a descoberta de uma referência documental que dá Giovanni di Portogallo como aluno do Angélico em Fiésole, em 1435.
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Resumo do texto de António Matos Reis (2006).

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