domingo, 1 de dezembro de 2013

24 dias para o Natal - A Árvore de Natal

Árvore de Natal da rainha Victoria e seu marido Albert (The Illustrated London News, 1848 - Link)
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O costume do pinheiro de Natal veio dos países escandinavos, tendo sido os suecos que o levaram para a Alemanha, no início do séc. XVII*. Contudo, o seu simbolismo deve ter uma origem mais antiga, ligada à da árvore "sempre verde", que tomava parte dos rituais pagãos de inverno. As árvores de folha perene eram vistas como imagens da vida eterna, entre vários povos e religiões. Deve também referir-se, a este propósito, a árvore do paraíso, decorada com maçãs, e que surgia nas peças teatrais representadas durante a Idade Média, no dia 24 de Dezembro, dia de Adão e Eva**.
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D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, O Pai Natal (1848, Palácio Nacional da Ajuda)
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Em 1840, o pinheiro de Natal foi introduzido noutros países, sobretudo por influência germânica. Em Paris, pela princesa Helena de Mecklemburgo (duquesa de Orleães); em Inglaterra pelo príncipe Alberto, marido da rainha Vitória*. Em Portugal, terá sido pela mesma altura, através de D. Fernando II, que se casou em 1836 com a rainha D. Maria II. Em 1900, o costume já estava implantado no mundo ocidental*. 
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Georg von Rosen, The Christmas Fair (1872 - Link)
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Em 1865, Ramalho Ortigão escreveu a propósito do pinheiro de Natal, em Portugal, afirmando que era um costume que vinha da Alemanha, mas que não lhe agradava:

«Quando eu era pequeno nunca se falou em árvore de Natal na minha casa (...).
Vi ante-ontem no Palácio de Cristal o enlevo das crianças portuenses ao pé do pinheiro do Natal, todo resplandecente de luzes e vistosíssimo de bonecos, de tambores, de cornetas e cartonagenzinhas com amêndoas, e declaro que não lhes tive a menor inveja. (...)
Ah! os directores do Palácio de Cristal entraram demasiado no espírito da época (...)»***.

Noutro texto, cuja data não descobri, Ramalho voltava a queixar-se da novidade:

«A Árvore de Natal, recentemente importada dos costumes estrangeiros, é uma especulação do comércio; não é ainda um uso da família»****.
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Christmas Scene with Children and Toys (Link)
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É interessante notar que as primeiras imagens que se vêm desta árvore mostram-na de dimensões relativamente reduzidas e em cima de uma mesa. É de assumir que foi com o passar do tempo que as árvores de Natal foram aumentando em tamanho e protagonismo na festividade natalícia.
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Jozsef Rippl-Ronai, Christmas (1910)
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Quando eu era criança, só encontrava árvores de Natal na casa dos meus pais e de outras pessoas da sua geração. Era comprada a vendedores de rua, como por exemplo na Avenida de Roma, junto da linha de combóio, e era um pinheiro real que deixava um aroma muito agradável pela casa. Pouco tempo depois, nomeadamente por razões ecológicas (segundo creio), passaram a vender-se os pinheiros artificiais e árvores naturais em vasos, que se encontram em floristas e outras lojas.
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Jogo de paciência (Museu dos Biscainhos - Link)
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Devo concluir dizendo que, ao contrário de Ramalho Ortigão, eu aprecio o pinheiro de Natal, mesmo no formato artificial, cheio de decorações e de luzes a piscar. E já montei o meu.
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Patrick McDonnell, Mutts (Link)
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Biblliografia:
* Philippe Ariès e Georges Duby (Dir.), História da Vida Privada. Da Revolução Francesa à Grande Guerra, Vol. 4, Edições Afrontamento, 1990.
** Wikipedia (versão inglesa).
*** Ramalho Ortigão, Crónicas Portuenses, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1944.
**** Ramalho Ortigão, As Farpas, Tomo V, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1943.

3 comentários:

ana disse...

Margarida,
Hoje andei a vestir a casa de Natal. Fiz a minha árvore, com o presépio, também.
Gostei muito deste registo histórico de História do quotidiano em tempos festivos.
Beijinho grato pela partilha. :))

Presépio no Canal disse...

Um post muito interessante, Margarida. Gosto muito de árvores de Natal e de ir comprando as decorações ao longo dos anos. Este ano, comprámos duas bolas e uma bruxinha-anjo, em Aachen.
Na Holanda, a árvore de Natal mais bonita que vi foi no palácio Het Loo, em Apeldoorn, decorada com laranjas, em honra à Casa Real (Casa de Oranje). Para dares uma espreitadela:http://www.paleishetloo.nl/en/agenda/winter-palace-het-loo/.
Beijinho grande e obrigada por um post tão bonito! :-)

Margarida Elias disse...

Ana: Eu gostei de fazer esta pequena pesquisa, mas gostava de descobrir mais coisas sobre o assunto. Beijinhos e obrigada!

Sandra: Obrigada Sandra! Eu gosto do Natal e de vestir a casa de Natal. Vou espreitar o link. Beijinhos!