quarta-feira, 18 de junho de 2014

Columbano e História da Dança – Painéis para a sala de baile do Palacete do Conde de Valenças

Painéis para a sala de baile do Palácio Valenças: «A Dança ao longo da História» (1891 - link)
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Tecto da sala de baile do Conde de Valenças (1891, Hotel da Lapa, Lisboa)
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A obra de Columbano que vai agora a leilão corresponde a um conjunto de cinco telas, de grande formato, dedicadas à "A Dança ao longo da História". Terminadas em 1891, estas pinturas inserem-se na carreira de Columbano no âmbito das artes decorativas, que terá iniciado em 1878-1880, com um trabalho feito em colaboração com Pereira Júnior para Câmara Municipal de Lisboa. 
Os painéis da História da Dança foram executados por encomenda para o Palacete do conde de Valenças, Luís Leite Pereira Jardim (1844-1910). A decoração era composta por oito pinturas, nomeadamente um tecto e sete painéis pintados sobre tela, com cerca de três metros de altura. No início de 1891, estando os trabalhos concluídos, o artista decidiu abrir, para alguns críticos e amigos, uma exposição no seu ateliê do Pátio do Martel, onde apresentou os sete painéis, que posteriormente seriam aplicados às molduras de estuque do salão de baile a que se destinavam. 
Nessa altura, Columbano foi alvo de uma significativa crítica de Fialho de Almeida (1857-1911), que se mostrou hesitante na apreciação destas obras. Para ele o terceiro pano, relativo à época de Luís XV, era «o trecho amorosamente estudado (…): detalhes, desenho, tons, tudo é magnífico». No quinto pano, que evocava um par dançante por alturas de Henrique III, Fialho dizia que o homem era Lopes de Mendonça, «vestido de negro». O escritor também apreciou o painel onde estava «pintada uma quadrilha, de que o espectador apercebe oito ou nove figuras», entre as quais se via uma «mulher magnífica, de branco, lembrando um pouco um retrato de D. Maria II, por Lawrence». 
As apreciações de Fialho de Almeida evidenciavam não só os defeitos como as qualidades de Columbano na pintura decorativa. Dizia, com alguma razão, que Columbano era um realista, cujos recursos vinham «da observação directa». As «figuras daqueles sete panos, à parte uma ou outra mais hierarquicamente posta, são antes exibições de tipos contemporâneos, sinceramente estudados dentro de vestidos de outras épocas, do que tentativas de restauração da fisionomia antiga». 
O tecto não foi visto nessa altura por Fialho porque foi pintado in situ, e ainda hoje pode ser apreciado no espaço para que estava inicialmente destinado (actualmente é o Hotel da Lapa). Columbano construiu uma composição em trompe l’oeil, onde, em torno de uma arquitectura que se abre para o céu, se dispõem diversas figuras que tocam música, dialogam entre si ou espreitam para baixo. Algumas estão bem definidas, outras estão submersas na nebulosidade que as cerca e as remete para um espaço irreal. As personagens encontram-se trajadas à moda do século XVIII, destacando-se uma mulher, sentada sobre a varanda, que toca um bandolim.
Ao longo do tempo, as pinturas realizadas por Columbano para o Palácio Valenças suscitaram variadas apreciações por parte dos historiadores. Alguns, como Varela Aldemira, apreciaram esta «primorosa decoração», pintada com «pomposo requinte». Também Diogo de Macedo veria um «harmonioso efeito decorativo», nomeadamente no uso de cores doces e luminosas. Pelo contrário, o historiador Adriano de Gusmão escreveu que «o realismo (…) atraiçoava Columbano quando, nas grandes decorações, se afastava do motivo contemporâneo». Opinião semelhante foi a de José-Augusto França ao afirmar que as críticas de Fialho de Almeida iriam permanecer justas para todo o seu labor do género decorativo. Mais positiva tem sido a análise feita pela recente historiografia de arte, sobretudo depois da exposição do Museu do Chiado de 2010 e do artigo de Foteini Vlachou publicado no catálogo dessa mesma exposição. 
Como foi notado, este tipo de pintura decorativa e historicista integra-se no gosto neo-barroco e neo-rocaille de influência francesa que marcou o final do século XIX. É certo que Columbano era mais realista do que o que era desejado no mundo da pintura decorativa e académica. Contudo, independentemente dessa questão, muitas das suas obras decorativas são de grande beleza e apresentam sempre um inegável domínio do ponto de vista da técnica e do colorido.
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Bibl.: Fialho de ALMEIDA, 20/1/1891, in Fialho de ALMEIDA, 1992, Os Gatos, Lisboa, Clássica Editora, 1992, vol. IV, pp. 39-47; «Columbanos por cem mil contos», Visão, 21/6/2001; Margarida ELIAS, Columbano no seu Tempo (1857-1929), FCSH-UNL, 2011 (Tese de Doutoramento); Foteini VLACHOU, 2010, «Columbano e a pintura decorativa», in Maria de Aires SILVEIRA (coord.), 2010, Columbano, MNAC/Leya.

4 comentários:

APS disse...

Felizmente (?), Columbano não terá "cotação" (?), lá fora, condizente com a sua qualidade indiscutível.
De outro modo, os pequeninos xavieres da cultura diriam: "que emigrem, como o Miró!..."

Margarida Elias disse...

Mesmo assim, ainda poderão acabar fora de Portugal... Boa noite!

ana disse...

Margarida,
Tinha lido no Prosimetron registo feito por JMS. Fez-me tanta impressão. Como é que é possível deixar sair estes painéis?

Espero que haja bom senso...
Beijinho e gostei, pois claro!:))

Margarida Elias disse...

Vamos ver o que acontece, Ana. Bjns!