quinta-feira, 10 de julho de 2014

Politicamente incorrecto

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Não gosto muito de me meter em política e cada vez que penso nela lembro-me de Rafael Bordalo Pinheiro, homem que muito admiro. Acredito em cidadania e em respeito pelos outros, mas por vezes parece-me que a política e a cidadania são coisas distantes - mas não deveriam ser. Ontem assisti a uma reunião participativa da Câmara Municipal de Lisboa que me deixou preocupada. O que é uma cidade? Para quem se dirigem as políticas camarárias? 
Já há muito tempo que não estudo estes temas mas creio que uma cidade é mais do que um aglomerado de casas e pessoas. Deve ter locais de convívio, espaços comunitários, estruturas que permitam qualidade de vida para os seus habitantes. Julgo também que, para a Câmara, as pessoas que vivem na cidade são mais importantes que os turistas que as visitam; e que as pessoas que vivem nos bairros são mais importantes que aquelas que os visitam. 
Dito de outro modo, julgo que a Câmara devia dar prioridade às pessoas que vivem e trabalham em Lisboa. Deveriam existir mais locais onde as famílias pudessem passear e eventos culturais dirigidos para a população em geral e não (somente) para faixas minoritárias. Porque é que se organizam eventos num bairro se esses eventos não interessam (de facto) às pessoas que habitam nesse bairro? Porque é que se investe tão pouco nos idosos e nas famílias? Como é possível que se invista tanto em eventos para jovens e turistas, se ainda existem tantos problemas nas escolas, nomeadamente com falta de pessoal auxiliar? Como é possível que haja espaços verdes onde raramente se faz alguma coisa que interesse à população comum? Como é possível que o espaço da feira popular ainda continue vazio e não há nenhum sítio equivalente em Lisboa para o substituir? (como existe em Viena de Áustria, por exemplo). Como é possível que nas festas de Lisboa não haja nada gratuito dirigido às famílias? Isto já para não falar nos prédios degradados e nas ruas esburacadas.
Ontem fiquei com a sensação que quem não for boémio, turista, jovem, ou rico o suficiente para viver num condomínio privado ou numa zona "nobre", mais vale mudar-se...
E, para descontrair, de cada vez que penso em politicamente incorrecto, lembro-me de uma das minhas séries preferidas de sempre, a Murphy Brown.

8 comentários:

Presépio no Canal disse...

Questões muito pertinentes, as que colocas, Margarida. E é pena que Lx esteja assim, de costas voltadas para os seus, uma cidade com tantas potencialidades.
No caso do património, fico estarrecida cada vez que leio, no blog Estado Sentido, a rubrica do Nuno Castelo Branco: http://estadosentido.blogs.sapo.pt/tag/lisboa+arruinada.
É de uma pessoa se benzer...pobre cidade.
Beijinho

Margarida Elias disse...

Tenho de ver esse blogue. Há coisas em Lisboa incríveis. Ontem percebi que a única coisa que a CML pode fazer nas casas arruinadas é aumentar o IMI aos senhorios, mas pelos vistos nãos os incomoda nada... Beijinhos!

ana disse...

Margarida,
É pungente este seu registo. Concordo inteiramente com o que afirma. Rafael Bordalo Pinheiro (que também gosto muito) é que tinha o poder da crítica chegando ao tutano da situação.

Viu a manifestação no Museu do Chiado sobre o custo das entradas nos museus?
Não vejo TV mas vejo telejornais sempre que posso.

Sabe que para ver uma peça no Museu Machado de Castro paguei 6 euros?
As famílias com os cortes que tiveram não podem usufruir da cultura.
Tristezas da nossa terra.
Um beijinho para as duas.:))
Ana

Margarida Elias disse...

Ana: Concordo consigo. O preço da cultura é proibitivo. Confesso que não fui à feira do livro pois não tenho dinheiro para comprar livros. Já evito ir a museus (o que é ridículo na minha profissão...). Em muitas cidades, mesmo portuguesas, há actividades e eventos gratuitos para os moradores... Em Lisboa (não sei como é em Coimbra) os moradores estão ao nível dos turistas, mas com menor poder de compra. Há uns anos a Gulbenkian fez um concerto gratuito que estava cheio 1 hora antes de ter começado, o que demonstra que as pessoas querem cultura, não têm é meios de a pagar... Beijinhos!

APS disse...

Estou inteiramente de acordo com a sua perspectiva.

Margarida Elias disse...

Obrigada, APS! Boa tarde!

ana disse...

Margarida,
Felizmente em Coimbra durante as festas da cidade e da Rainha Santa há muitas ofertas gratuitas. Tais como:
- Passeios pela cidade;
- Espectáculos musicais em frente à Igreja de Santa Cruz;
- Já aproveitei três passeios um deles ao Museu de Santa Clara -a-Velha; outro às muralhas da cidade de Coimbra (viagem simbólica pois foram destruídas); ao Mosteiro de Celas.

Margarida Elias disse...

Gosto de Coimbra. Vi imagens das festas na televisão e fiquei encantada. Na minha lista de planos para passeios em Coimbra está uma visita ao Mosteiro de Santa-Clara a Nova e voltar a visitar o Museu Machado de Castro. Beijinhos!