sábado, 11 de junho de 2016

Para o Dia de Santo António (13 de Junho)

Reino do Congo, Santo António de Pádua (sécs. XVI-XIX, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque)
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Uma das questões que mais me intriga, e para a qual ainda não encontrei resposta, é a da história do culto dos Santos Populares, dos Feriados e outras datas festivas tradicionais, que hoje em dia são tão comuns que nos parecem ser antigas como a história. Muitas destas tradições poderão ser enquadráveis no tema da invenção da tradição já referida por Hobsbawm. Suponho que muitas respostas às minhas perguntas se encontrem no livro Feriados de Portugal de Luís Oliveira Andrade (2012) que ainda não tive oportunidade de ler.
Sei que em 1895 se realizaram grandes festas na capital por ocasião do Sétimo Centenário do nascimento de Santo António. Em 1909, ainda não existia feriado municipal e o santo não era o único venerado, como se comprova pelo artigo «Os três Santos Populares de Lisboa», publicado na Ilustração Portuguesa, em 28 de Junho desse ano, que começa dizendo: «Lisboa tem os seus tres santos populares que festeja, mas aos quaes não faz promessas.» - sendo eles Santo António, São João e São Pedro. A comemoração dos feriados municipais só iniciou com a publicação do Decreto com força de Lei de 12 de Outubro de 1910 (cf. Câmara Municipal de Montemor-o-Velho).

Tronos de Santo António, 1º prémio, 1952. Calçada do Jogo da Péla, freg. Santa Justa - Arquivo Municipal de Lisboa (foto de António Castelo Branco)

No artigo da Ilustração Portuguesa fala-se nos tronos de Santo António: 
«Não ha imagem com mais altares na cidade do que Santo António (...). Em cada vão de portal lá está o seu throno com o docel de papel de côres. as escadinhas onde se mostram os objectos do ritual, os tocheiros, as palmas, as custodias, os relicarios, os castiçaes com as suas velinhas finas (...) dizendo bem com a figura do santo cujos olhos fixos (...) nos parecem seguir e condenar-nos quando recusamos os obulos pedidos pelos pequeninos em sua intenção.» 
Eu, de facto, lembro-me de pedir «um tostãozinho para o Santo António», mas não me lembro de me terem dado. A avaliar pelo artigo de 1909, era costume dar dinheiro às crianças, supostamente para comprar «bichinhas de rabiar» e «valverdes que deviam ser queimados por sua fé», mas que eram convertidos em guloseimas. Supostamente, o Santo perdoou as crianças pela compra das gulodices, assim como perdoou ao povo o facto de o ter feito «patrocinar o amôr dos outros» - nomeadamente com a tradição dos casamentos de Santo António, desde 1958 (cf. Câmara Municipal de Lisboa).
De acordo com outro texto - «Santo António de Lisboa e de Pádua (Antonius Lusitanus), 13 de Junho» -, o culto popular ao santo começou ainda em vida: «O culto oficial da Igreja, em menos de um ano, depois de morte, por decreto do Papa Gregório IX, com festa, no dia do seu nascimento para a vida eterna, 13 de Junho. Até meados do séc. XV o culto manteve‐se circunscrito a Pádua que em sua honra edificou uma preciosa basílica. A partir do séc. XVI, o culto antoniano estendeu‐se a Portugal que o difundiu pelo mundo.» No ano de 1934, Santo António foi declarado padroeiro de Portugal.

2 comentários:

APS disse...

Antes de mais, a escultura africana que pôs em imagem é muito curiosa e interessante.
Quanto ao Sto. António. Sempre que um português alcança notoriedade lá fora, os conterrâneos habitualmente melhor o dignificam - é de regra...
Por outro lado, os contemporâneos consideravam-no um dos grandes oradores sagrados do tempo. E devia ter carisma e ser uma personalidade com fascínio e capacidade de persuasão. Não terá sido por acaso que, nas guerras da Restauração, foi escolhido para patrono das tropas portuguesas. Provavelmente, porque já era um Santo popular.
E há um facto que talvez a Margarida desconheça. É que o Sto. António recebia um soldo e foi sendo promovido de posto, ao longo das batalhas travadas e vencidas pelos portugueses. Creio que chegou a Capitão... Quanto ao pré, recebido, creio que era entregue à Igreja, para culto da sua imagem.
Boa noite!

Margarida Elias disse...

Obrigada, APS! Muito interessante essa história. Realmente ele já era um Santo muito popular. Bom Domingo!